Quem estuda turismo sabe que alguns destinos são verdadeiros casos de sucesso. Lugares antes pouco procurados, colocados nas prateleiras de baixo das agências de viagens e que, através de um posicionamento sólido e competente campanha de marketing, conseguiram se transformar em sonhos de consumo. É o caso de Cancún, Aruba e Colômbia, para ficar só nas Américas. Mas nenhum destino conseguiu se inventar e reinventar tantas vezes – e com tanto sucesso – como Las Vegas, a nova capital dos esportes americanos.
Desde seu início, Las Vegas era improvável. Ela foi erguida literalmente no meio do deserto, a uma distância cuidadosamente calculada de um grande centro, Los Angeles. Não tão perto para ser engolida pela cidade, nem tão longe que não dê para ir de carro passar um fim de semana. E foi construída com o objetivo primário de abrigar o jogo. Tudo ao redor que não era cassino, tinha alguma ligação com eles.
Las Vegas conseguiu se tonar a capital mundial dos cassinos, apesar da concorrência de outros polos mundiais. Agora, a cidade quer ser também a capital dos esportes profissionais – e já está na metade do caminho. Das quatro grandes ligas esportivas americanas, duas já têm representantes da cidade.
A primeira foi a NHL, a liga de hóquei no gelo. E se você acha estranho um rinque de patinação no meio do deserto, saiba que Vegas faz coisas muito mais ousadas. Construir a T-Mobile Arena foi fácil para uma cidade que já reproduziu o palácio de Cesar, a Torre Eiffel ou a cidade de Veneza. E a temporada 2017-18 marcou o debut dos Golden Knights na liga do Pacífico. E já nesse ano o time chegou até as finais da cobiçada Stanley Cup, perdendo para os Capitals de Washington. Nos anos seguintes, foi presença em todos os playoffs, mostrando que é um time no qual vale apostar. E em Las Vegas isso diz muito.
A segunda grande liga a receber Vegas foi a NFL, a liga de futebol americano. O tradicional time dos Raiders, que nasceu em Oakland, foi para Los Angeles, depois voltou para Oakland, decidiu que era hora de respirar novos ares. E aceitou a oferta de se mudar para Las Vegas, já que é impossível simplesmente criar um novo time na NFL. A cidade abriu os braços – e os cofres – e os Raiders agora jogam Allegiant Stadium, um dos mais modernos da liga e candidatíssimo a um futuro Super Bowl.
A próxima liga na mira é a NBA. A cidade já possui um time na liga feminina, o Las Vegas Aces, mas quer um time masculino em breve, e já há conversas adiantadas nesse sentido, que acomodariam também outras cidades com a mesma carência.
Restará apenas a MLB, mas também com ela já foram dados alguns passos. O Las Vegas Aviators é um time das ligas menores, e um balão de ensaio para um time de Nevada na maior liga de beisebol do mundo.
Toda essa movimentação de Vegas rumo às grandes ligas tem um motivo. A cidade sabe do poder dos esportes como atrativo turístico – e Vegas vive de turismo. Para além dos cassinos, ela quer ser um local de multientretenimento – os inúmeros shows, os diversos restaurantes e as variadas atrações já mostravam esse caminho. Da mesma forma, grandes lutas do boxe e, mais recentemente, de MMA, são realizadas em Las Vegas, e não por acaso.
Um grande evento esportivo não apenas atrai uma multidão de visitantes, mas também dá à cidade uma projeção gigantesca na mídia, e isso gera dividendos a longo prazo. Com times nas grandes ligas, os eventos esportivos de relevância acontecerão repetidas vezes ao longo do ano, atraindo mais e mais turistas e holofotes.
Apesar de ser um local dedicado ao lazer, Las Vegas não está para brincadeira. Sua vocação natural para o entretenimento, bem como seu know-how adquirido em pouco mais de cem anos, fazem dela um imã para grandes espetáculos. E hoje em dia não existe, na face da Terra, um show maior do que o esporte.