A adolescência é um período que permite a exploração da criatividade e de descobertas de novos talentos por ser uma etapa essencial no desenvolvimento de identidades e das capacidades individuais. Ciente desse momento único e também com interesse em oferecer novas oportunidades para os jovens do Complexo da Maré, a iniciativa Periferia e Tecnologia da Maré (Peritech) promove o protagonismo tecnológico no Colégio Estadual João Borges de Moraes. No final do ano passado, nove alunos, coordenados pela mediação de Ana Helena Mendes e Senna, de 62 anos, e da sua colega Inês Di Mare Salles, conquistaram o Torneio Brasil de Robótica 2021, na categoria Mérito Científico.
Apoiados pela doação da instituição Redes da Maré, que forneceu materiais robóticos em 2019, o projeto investe nas capacitação no campo de tecnologia, um mercado que está em constante expansão no Brasil. Além dos conhecimentos básicos e tradicionais da área de tecnologia, os jovens também são ensinados a olhar para outras camadas sociais da vida, como a inteligência sócio afetiva, raciocínio lógico, cooperação, criatividade, autonomia, pensamento crítico e flexível e etc. Dentro do domínio da computação, eles aprendem a programação de robôs, uso consciente da internet, pesquisa científica e a percepção e criação de soluções inovadoras para problemas identificados no território local.

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Para Ana Helena, a conquista é uma demonstração que os jovens de favela são uma potência dentro dos conhecimentos científicos e que precisam de iniciativas que auxiliam nesse desenvolvimento. Além disso, a representatividade desperta o interesse de outros moradores da região, pois, depois do reconhecimento obtido no ano passado pela primeira turma do Peritech, outros estudantes da Maré procuram a iniciativa para que possam colaborar com a expansão tecnológica na região.
“Para mim, foi a celebração de um trabalho que eu e a Inês, ao lado dos alunos, realizamos com todo empenho. A iniciativa, que não só leva esses jovens a acreditar, desperta e desenvolve mais suas potências cognitivas e criativas. É importante pois, assim, eles se percebem como produtores de conhecimento científico, fontes de representatividade e muito mais. São os jovens favelados levando à reflexão e conscientização de que problemas sociais têm caminhos de solução”, destaca Helena.
No processo de desenvolvimento, a iniciativa faz encontro de quatro horas semanais na escola, mas quando a data dos torneios se aproxima, a quantidade de reuniões aumenta devido à necessidade de finalização dos processos exigidos em cada uma. Durante a pandemia do coronavírus, o projeto passou por reformulações no formato. Antes, contava só com compromissos presenciais. Agora, há a possibilidade de debates e concepção de ideias remotamente.
“Diante da pandemia, os encontros presenciais para a preparação para os torneios de robótica foram severamente dificultados (a partir de março de 2020), pois os estudantes não contavam com equipamentos e nem com acesso à internet adequados a essa atuação. Logo, a Redes da Maré promoveu que os estudantes do 3º ano do ensino médio do Colégio Professor João Borges de Moraes (os que iniciaram o projeto em 2019) participassem do projeto ‘Nas Ondas da Maré’, com aulas de informática, concessão de notebooks, uma bolsa que colabora para o acesso à internet e a aquisição de equipamentos eletrônicos para que esses jovens tivessem oportunidade de vivenciar essas experiências”, explica.